Embaixador israelense no Uruguai adverte para problemas com a entrada no bloco do país presidido por Hugo Chávez; apoio venezuelano ao Irã é um deles
Após entrada no Mercosul, Chávez terá de avaliar se fará ou não acordos com Israel (David Fernández/EFE)
Em entrevista ao jornal uruguaio El País, o embaixador israelense em Montevidéu, Dori Goren, alertou para as conseqüências políticas e econômicas que a incorporação da Venezuela no Mercosul pode trazer ao bloco e para o relacionamento com Juresalém. Segundo o diplomata, os efeitos da entrada do país presidido pelo ditador Hugo Chávez no bloco ainda são desconhecidos – e justamente por isso causam insegurança. "Não sabemos até que ponto isso poderá afetar as relações comerciais com Israel, quer seja de forma geral, quer individualmente com cada país da região", disse Goren. "Além disso, não sabemos da situação jurídica desse novo membro", completou.
O diplomata advertiu para o caráter político da entrada da Venezuela e ressaltou a simpatia do governo de Chávez pelo Irã e seu programa de armas nucleares. "Nossa relação é ruim com a Venezuela porque é um dos países que mais apoia o Irã em todo o mundo. E se o Irã sobrevive às sanções internacionais, é graças ao apoio de econômico da Venezuela", disse Goren. Venezuela e Israel romperam relações diplomáticas em 2009, quando Hugo Chávez expulsou o embaixador israelense, Shlomo Cohen, de Caracas. "Isso deveria preocupar os países do Mercosul, pois há grande quantidade de agentes iranianos operando no continente e estabelecendo redes de terrorismo com a cobertura da Venezuela", disse Goren.
Israel possui um tratado de livre comércio com o Mercosul assinado em 2007 (mas ratificado pelo Senado brasileiro apenas em 2010), além de ter contratos específicos com cada país do bloco. Da forma como o tratado com o bloco foi construído, o país governado por Chávez terá de firmar um tratado específico com Israel. Contudo, o diplomada duvida que isso aconteça. "Na teoria, podemos fazer um processo de negociação bilateral. Mas duvido que façamos isso, tendo em vista que não temos relações diplomáticas com o país. Tal como as coisas estão hoje, essa possibilidade seria algo como ficção científica", afirma o diplomata.
O El País cita um estudo recente feito pela consultoria argentina Ecolatina sobre o impacto político e econômico do ingresso da Venezuela no Mercosul. De acordo com o documento, "o posicionamento de Venezuela no mundo – alinhamento com o Irã e relação conflituosa com os Estados Unidos, Colômbia e Israel – pode afetar a discussão de futuros tratados de livre comércio". Ainda segundo o relatório, o bloco deverá analisar como ficará a situação da Venezuela com todos os países com os quais o Mercosul se relaciona comercialmente. "O exemplo mais sensível é o do acordo de livre comércio com Israel, já que a relação bilateral entre ambos atualmente é nula", informa.
Entrada no bloco – A Venezuela foi admitida no Mercosul em junho, em decisão tomada por Brasil, Argentina e Uruguai. O único obstáculo à presença do país no bloco era o Senado do Paraguai. Contudo, os paraguaios foram suspensos do grupo porque o Mercosul considerou antidemocrático o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo – embora tenha fechado os olhos para as agressões de Chávez à democracia.
FONTE: Revista Veja
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